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Raquel Henriques da Silva

Professora catedrática jubilada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de História da Arte. Autora de estudos de investigação e divulgação nas áreas do urbanismo e arquitectura (século XIX-XX), artes plásticas e museologia. Comissária de exposições de arte. Foi directora do Museu do Chiado (1994-97) e do Instituto Português de Museus (1997-2002).

Museu Jorge Vieira em Beja. Um Museu de Arte como Museu de Território

A minha comunicação aborda um tema que interessa todos os museólogos: como tornar os museus mais dinâmicos e mais envolvidos com a vida das comunidades? Como é próprio do nosso campo disciplinar nada melhor que bons exemplos para concretizar um ponto de vista. Assim abordarei o pequeno e quase desconhecido Museu Jorge Vieira em Beja (Portugal), partilhando as condições peculiares em que ele surgiu e um evento recente (na verdade acabado de inaugurar) que visa renovar e ampliar a peculiaridade que lhe deu origem.

Jorge Vieira (1922-1998) foi um dos mais importantes escultores portugueses do século XX. Homem de profundas convicções políticas e ideológicas, foi, evidentemente um opositor ao Estado Novo. Em 1952, por iniciativa própria, concorreu a um importante concurso internacional, promovido pelo britânico Institute of Contemporary Art que visava escolher um projecto para o «Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido». Entre 1 500 concorrentes, Jorge Vieira foi distinguido pelo júri com um prémio que tem um comovente valor simbólico. Num país que, mesmo depois do final da Segunda Guerra Mundial, continuava a ser uma ditadura de que a polícia política era um instrumento ameaçador, o escultor criou uma peça abstracta mas com uma imensa energia de comunicação. Tornou-se uma obra mítica nos círculos artísticos portugueses mas, mesmo depois da Revolução do 25 de Abril de 1974, continuou a ser a “maquete” sem cumprir a sua determinação pública. Tal ocorreu em Beja, em 1994, mercê de uma cadeia de amizades em que o então presidente da Câmara Municipal teve papel destacado: a maquete tornou-se monumento. Feliz com esta importante ocorrência, Jorge Vieira ofereceu à autarquia um conjunto significativo de esculturas e desenhos que vieram a constituir o Museu Jorge Vieira, instalado, desde 2019, numa das casas do Castelo de Beja.

Depois da sua morte, foi a sua viúva a escultora Noémia Cruz que, com uma pequena e motivada equipa, tem mantido exemplarmente o museu. Em 2022, celebrando o centenário de Jorge Vieira, inaugurou, noutro espaço cultural da cidade, a exposição “Memória e Mitos. O Touro na obra de Jorge Vieira” centrada num dos grandes temas da obra de Jorge Vieira, o Touro como símbolo retrabalhado das culturas antigas do Mediterrâneo. Foi possível pôr as suas esculturas de profunda ressonância mítica (sem deixarem de ser notáveis pesquisas plásticas) em diálogo com alguns dos Touros que, pelo menos desde o século VI a. C. foram a iconografia fundamental da cidade. Jorge Vieira desconhecia esta história misteriosa mas concretizada em numerosas obras e vestígios arqueológicos no território de Beja. Ela parece a antecessora sígnica do seu interesse pelo Touro como matriz anticlássica da modernidade artística do século XX. Trabalhando em conjunto, historiadores da arte e arqueólogos, esta exposição dota de sentidos mais fundos o Museu Jorge Vieira: sem deixar de ser um museu monográfico de arte moderna, é também um museu de território, no nobre sentido de indagar e estimular uma grande diversidade de dispositivos culturais.

Maria Bolãnos

Doctora en Historia del Arte, ha sido entre 1975 y 2008 profesora de Historia del Arte de la Universidad de Valladolid y docente de los Master de Museología de las Universidades de Valencia, Granada, Alicante, Toledo y La Laguna. Es autora de los libros Pasajes de la Melancolia (1996), Historia de los Museos en España (1997), La Memoria del Mundo. Cien Años de Museologia (2002), El Silencio del Escultor. Baltasar Lobo (2003) e Interpretar el Arte (2007). Entre 2008 y 2021 ha sido directora del Museo Nacional de Escultura (Valadollid). De entre las exposiciones comisariadas y la edición de sus correspondientes catálogos destacan: Figuras de la Exclusión (2011), Ricardo de Orueta en el Frente del Arte (2014), Tiempos de Melancolía (2015), La Invención del Cuerpo (2016), El Diablo, tal vez (2018), Lobo. Un Moderno entre los Antíguos (2018), Miró. La Musa Blanca (2019), Almacén. El Lugar de los Invisibles (2019) y Non Finito. El Arte de lo Inacabado (2020).

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La mirada de Georges Salles

Imposible quedar indiferente ante la lectura de Le Regard. Este conjunto de ensayos que Georges Salles (1889-1966), historiador de arte, coleccionista y conservador del Museo del Louvre, publicó en 1939 trata del encuentro con las obras de arte y nos propone, en una prosa bella y arrebatada, un «arte de ver» tras el que vislumbramos una lección, audaz pero inquietante, sobre las relaciones del hombre con los objetos y con el conocimiento. El libro, «muy parisino», cautivó a un ilustre contemporáneo, Walter Benjamin (1892-1940), quien, dotado también de un ojo soñador y visionario, redactó, en el año de su muerte, una entusiasta crónica en forma de carta. Esta conferencia presentará la trayectoria de Georges Salles, figura oscurecida todavía hoy a pesar de su distinguido papel en el mundo de los museos en los años 40 y 50 del siglo XX, e intentará arrojar luz sobre esa conjunción inesperada entre un conservador francés y un filósofo alemán en torno a una moderna «antropología de la mirada», de consecuencias decisivas en relación con la experiencia del museo, la naturaleza gustativa de la comprensión, la exposición de los objetos artísticos, la mediación cultural.

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